'GATO ARREPENDIDO', SANDRO HIROSHI SONHA ESQUECER 'ERRO' E VOLTAR À ELITE.

Conhecido pela alteração da idade no fim dos anos 90, atacante afirma que ainda convive
com desconfiança e quer voltar aos holofotes com RB Brasil
Sandro Hiroshi chega sorridente ao treino do RB Brasil em um carrão importado. Mas basta
uma sugestão de uma fotografia segurando o documento de identidade para a sua fisionomia
mudar. "Isso eu não faço, sem chances", disse, sem titubear. Conhecido pelo famoso caso
de alteração de idade, em 1999, quando estava em ascensão no São Paulo, o atacante de 31
anos ainda convive com o constrangimento do que classifica como "um erro do passado".
Hiroshi despontou para o futebol no Rio Branco, de Americana, cidade no interior de São
Paulo. Entre 1994 e 1999, passou pelas categorias de base até chegar ao time profissional.
Com um bom desempenho no Paulista de 99, quando foi vice-artilheiro da competição, ele
chamou a atenção do São Paulo e logo se transferiu para o time do Morumbi. Mas um
problema de documentação entre seus ex-clubes deflagrou o caso de adulteração de idade,
conhecido no meio do futebol como "gato".
O caso foi descoberto depois que o Tocantinópolis-TO, time pelo qual jogou quando criança,
exigiu receber uma quantia em dinheiro, referente à mudança do Rio Branco para o São Paulo.
A alteração no seu documento de identidade, segundo Hiroshi, ocorreu em 1994, quando ainda
não havia completado 15 anos. Ele conta que a fraude foi feita para que pudesse disputar um
campeonato da categoria dente de leite, que era televisionado, pelo clube de Americana.
O jogador obteve da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão uma carteira de identidade
que atesta que ele nasceu no dia 19 de novembro de 1980, dia em que completou, na verdade,
um ano de idade.
Eu errei por 42 dias. Nasci em 1979. Eu só poderia jogar este campeonato se tivesse nascido
em 1980. E não tive vantagem nenhuma com isso. Foi um erro que cometi e já paguei por isso
, o jogador que foi campeão do Sul-Americano sub-17 em 1997, pela Seleção Brasileira.
Hiroshi foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva com 180 dias de suspensão.
Nesse tempo, ele conta que pensou que sua carreira estaria acabada. Recebeu apoio
psicológico do São Paulo, que não se negou a pagar seus salários mesmo depois da
descoberta da fraude. Na Justiça Comum, respondeu pelo crime de falsidade ideológica e
afirma que já está quites com a lei.
- O que me deixa triste é quando estou com minha família e alguém fala que sou trambiqueiro.
Agi errado por causa de um sonho de garoto e hoje sou exemplo. Acabei virando uma
referência quando algum atleta é pego. Mas não vou brigar com a imprensa por isso. Só
tento evitar comentar o assunto. Não tive benefício algum com isso. Só acho engraçado
quando alguém pergunta a minha idade e digo que tenho 31 anos. Então a pessoa fala: "Pô,
mas achei que você era maior velho!". Isso acontece porque era muito jovem quando o caso
aconteceu - afirmou Hiroshi, que teve uma passagem apagada pelo Flamengo em 2002, após
o fim do seu contrato com o São Paulo.
Titular do RB Brasil, equipe sediada em Campinas e que disputa a Série A-2 do Campeonato
Paulista, Sandro Hiroshi espera recuperar o prestígio do início de carreira, mas sem os
problemas do passado. E ele não pensa no momento de pendurar as chuteiras
- Meu pensamento aqui é igual ao da diretoria. Queremos vencer os jogos e um dia chegar à
primeira divisão do Campeonato Paulista. O momento de parar só Deus sabe...
Na Coreia do Sul, costumes estranhos
Depois da descoberta da adulteração nos tempos de São Paulo, Sandro Hiroshi passou por
Flamengo, Figueirense e Guarani, até ser convidado para atuar no futebol sul-coreano.
Na Ásia, ele atuou por por cinco equipes diferentes: Daegu, Chunnam Dragons e Suwon
Samsung. Além dos hábitos diferentes na alimentação - o atleta afirma que nunca comeu
carne de cachorro, apesar de ser um costume no país - , ele viu algumas atitudes estranhas
nos vestiários das equipes.
- Lá os mais jovens respeitam muito os mais velhos. Mas, às vezes isso passava dos limites.
Os treinadores batiam nos atletas sul-coreanos quando eles faziam algo errado nos jogos.
Não era raro ver os jogadores chorando. Eu ficava indignado, mas não podia fazer nada.
Para eles, aquilo era comum - contou.
Hiroshi disse ainda que aprendeu a ler em coreano e que chegou a conseguir se comunicar
com os atletas.
- Eles sempre brincavam comigo, pedindo para que eu falasse as coisas porque tinha um
sotaque diferente - relembra.